Gloriosa Liberdade
- Katya Kitajima Borges
- 23 de nov. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de nov. de 2023

A mulher madura não tem mais pressa porque já correu demais. Ao longo de seu percurso foi arquitetando formas para dar conta dos tantos pratos a rodar. Muitas, cumpriram com louvor o seu papel social mais difícil, o da maternidade. Permitiu que seus amores voassem livremente do ninho para o mundo, em busca dos seus sonhos e encontro com novos amores.
Na transição, a alma pediu calma e contemplações. Pediu tempo para decantar os estranhamentos do que fazer com o relógio que ganhou horas a mais e com as solicitações que não se ouvia mais pelos cantos da casa. Tempo para os ajustes necessários e se conectar com o seu self mais profundo. Sentiu vontade de recuperar o tempo, não o que foi perdido, mas o que esteve ocupado. É preciso um tanto de energia ter que recomeçar. Coragem para se despir de tudo aquilo que foi posto e imposto, renunciar aos próprios c-ismos - perfeccionismo, pseudoheroísmo, autocriticismo. Afinal, novas versões de si mesma só se concretizam quando se deixa morrer algo que já não faz mais sentido.
Os desafios agora são outros, não há mais obrigações. Deus cronos cutuca o ombro dizendo que não se pode mais sair vagando sem rumo, sem vitalidade, sem propósito. A mulher madura das carências hormonais resiste e quer existir, quer ser respeitada em seus fios brancos. O cerebral abre espaço para o visceral e intuitivo. Potência máxima criativa que pulsa, que pede passagem para os transbordamentos.
Desperta no reconectar-se dos sonhos adormecidos, da mesma forma, entende a diferença entre ter sucesso e ter êxito. O primeiro sacrifica e o segundo a realiza a alma feminina. Entusiasmo, flexibilidade, liberdade e generosa experiência de vida contam a favor no currículo da subjetividade.
A fertilidade agora segue na ordem da criação e das ideias. Há imensa curiosidade em aprender coisas novas, exercer a qualidade do experimentar, explorar os sentidos e as habilidades desconhecidas. É o sustento da vida criativa. Nunca é tarde para começar algo que faz os olhos brilharem. E nem precisa ser algo genial, só precisa fazer existir. Só precisa deixar o sol florescer o próprio jardim.
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