Pró-Aging
- katyakitajima
- 10 de jul. de 2024
- 3 min de leitura

Na revista da sala de espera do endocrinologista, me deparo com a palavra ageless. Tinha certeza de que já havia visto algum comercial de televisão com aquela palavra. Lembrei que era um tal creme anti-idade que se apresentava numa pequena bisnaga e prometia o efeito Cinderela. Nas fotos comparativas exibidas, as rugas e as bolsas de gordura abaixo dos olhos sumiam milagrosamente. Tudo esticava em questão de minutos, bigode chinês então, não tinha vez. Pareciam resultados revolucionários e impressionantes. Mas, como no conhecido conto da princesa, após as doze badaladas, era tempo de virar abóbora novamente. O tal movimento ageless defendia: “a pessoa pode sentir-se livre de todas as amarras para ser, usar e fazer tudo sem os estereótipos sociais da velhice, vai além das questões estéticas”. A frase por questões de segundos quase me convenceu, depois percebi que mais aprisionava do que libertava. Este é um tema que pede outro texto.
Houve tempo em que chamava de corajosas as mulheres que experimentavam todos os produtos e intervenções que o mercado lançava prometendo a fórmula da beleza da juventude. Já admirei as disciplinadas que estabelecem a rotina diária do demaquilante, adstringente, tonificante, hidratante e protetor solar – não tenho certeza se é essa a sequência. Sem contar com os adicionais dos cremes com ácidos retinóicos, vitamina C e séruns. Uns para a região dos olhos, para as rugas ao redor da boca, outros para o colo e pescoço. Não sabia de que se tratava de preguiça ou revolta inconsciente por não ter disposição para tantos enquadramentos. Na dermatologista, era sempre assim, a cada visita o sermão, seguido da despesa na farmácia com a lista de cremes. Cumpria rigorosamente às orientações da doutora por no máximo duas semanas, depois, os rótulos perdiam validades. Maquiagem sempre foi outro dilema para mim. Sei na teoria que a sombra de cor mais escura fica na base dos cílios, o degradé vai seguindo as pálpebras acima, alinhado ao uso dos devidos pincéis para cada pedaço da pequena área ocular. Na hora de por em prática nada funciona.
Considerava profundamente os efeitos físicos e psicológicos com a chegada da menopausa. Minissaias, sandálias rasteirinhas e cabelos longos iam ser abolidos, pois ouvia dizer que não combinavam com mulheres maduras. A profissão e o marido tinham que estar redondinhos na vida. E os sonhos? Já deveriam ter sidos realizados. No dia em que completei 40 anos, a loba eufórica quis fazer uma tatuagem, desisti ao escutar o filho adolescente dizer que tatuagens não combinavam com mães. Quantas histórias da carochinhas demos ouvidos.
Pois bem, quando finalmente “cinquentei”, um marco na vida de qualquer mulher que se preze, questionei: O que desejo fazer com a outra metade da vida que teoricamente tenho? Que vozes valem a pena considerar? Quais os novos papéis e desafios femininos vão se apresentar? Na busca curiosa dessas respostas, certa noite de frequente insônia, pesquisei #feminino, #universofeminino, #mulhermadura... O que encontrei na epoca: dezenas de sites comerciais e blogueiras vendendo ou dando dicas sobre maquiagem e moda. Para informação adicional: o #mulheresgostosas tem mais publicações que o #mulheresvirtuosas. Depois disso, achei melhor dormir.
Como tinha tendência à ansiedade e a problematizar tudo, a maturidade vem me ensinando a viver mais no presente, constato que faz bem pra pele. Quero sim uma pele cuidada, saudável e nutrida. Sem exageros e enquadramentos. A maturidade faz-me considerar profundamente a por em prática a verdadeira liberdade, viver a vida com qualidade e leveza.Prometo-me exercitar mais as sombras nas pálpebras que agora carecem de colágeno. Aos 56 anos, ainda não penso em fazer plásticas, muito menos vou deixar de usar vestidos curtos. Marido e carreira vivem altos e baixos, nada de redondinho e sem graça. Jamais deixarei de ser curiosa e a ter sonhos e, sim, vou tatuar brevemente uma concha no pé direito. Viva o movimento pró-aging.
*Acervo pessoal. Muro de Berlim (Jan/2024)





Adorei a reflexão! Esse ano faço 50 anos e me identifico muito com essa sua vivência. Obrigada por partilhar seu caminho e nos inspirar a criarmos o nosso próprio!💖